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Os meus, os seus, os nossos

Muitas pessoas depois da separação decidem casar-se novamente e construir uma nova família. E aí começam a surgir os problemas e as dúvidas sobre como lidar com os filhos dele e os dela.

Não existem regras para que essa convivência aconteça de forma harmoniosa. Às vezes, não acontece mesmo. Os filhos de um podem não se adaptar aos do outro ou até mesmo um dos cônjuges pode ter dificuldades de relacionamento com uma das crianças. Afinal, nem todos escolheram essa nova relação, cada um vem com uma história diferente de vida, e com influências e traços dos pais naturais e das famílias deles.

“Muitas possibilidades de relacionamento podem acontecer. Como no primeiro casamento, a reconstrução pode não dar certo e a decisão de levar os filhos para o novo relacionamento tem que ser bem amadurecida”, diz a psicóloga Maria Teresa Ramos de Souza. “O casal que quer se unir deve conversar com todos os filhos, reunir a futura família e chegar ao que é melhor para todos. Algum filho pode preferir, por exemplo, não deixar a casa em que mora e essa decisão deve ser respeitada”, explica Maria Teresa.

Uma forma de começar a aproximar a turma sem forçar nada é promover encontros e passeios – sem obrigação ou compromisso – para que todos possam se conhecer. “Assim é possível perceber como é cada um das crianças ou jovens e ter uma noção de como estão se sentindo”, diz a psicóloga.

Mas não se engane, por melhor que tudo pareça, no início todos os novos membros desta família vão sentir ciúmes uns dos outros e tentar delimitar territórios. Por isso, é importante ficar atento e intervir quando a situação ficar incontornável.

Atritos podem surgir em casa

Da mesma maneira que a aproximação pode ser complicada, a convivência em casa também pode ser conflituosa. É muito comum que os cônjuges tenham dificuldades para educar os filhos do outro. A famosa frase “você não é o meu pai (ou minha mãe)” também vai aparecer com frequência, até que a confiança daquela criança tenha sido conquistada. E não há forma melhor de fazer isto do que com paciência e afeto, sem deixar de lado os limites, claro. Esses pontos são delicados e Maria Teresa aconselha sempre o diálogo para se chegar ao entendimento.

Criando um novo território

Construir um novo lar, território neutro que vai ser de todos, escolhido e montado para esta nova família é uma saída poderosa para já de cara diminuir uma série de problemas. É que se optam por morar na casa já montada de um dos cônjuges, aqueles que já moram nessa casa costumam sentir seu espaço invadido com a chegada dos novos moradores. E com certeza, podem tiranizar os que chegam de alguma forma, por acharem-se os “donos do pedaço”.

Uma casa nova pode ser um pretexto para aproximar todo mundo, desde a escolha do local, dos quartos de cada um, dos móveis, das áreas em comum como salas de tevê, sala de estar, varandas. Se as crianças forem pequenas, é mais fácil colocá-las para dividir quartos. Adolescentes costumam reagir mais duramente, principalmente se tiverem sido criados sozinhos. Mas a divisão de espaço também é uma boa forma para que eles exercitem um novo aprendizado.

Criando novas regras

Outra etapa importante para a harmonia desta nova família é estabelecimento das regras, acertadas anteriormente pelo casal. É preciso mostrar para todos que a partir de agora estão diante de um novo lar, de uma nova família e de novas formas de convivência que exigem novas condutas. Muitas vezes os filhos vão argumentar que “antes não era assim”, e então é preciso ser firme para não se deixar levar pelos argumentos.

O que pode e o que não pode tem que valer para todos, não adianta um dos pais afrouxar ou passar a mão na cabeça do filho, por mais que seja difícil num primeiro momento mudar uma atitude com ele. É preciso também que o casal esteja muito unido nas suas convicções e no seu afeto para que não caiam nas armadilhas criadas pelos filhos. Muito provavelmente eles vão tocar em pontos que esbarram na culpa ou no sentimento de responsabilidade do pai ou da mãe para tentar conseguir o que querem.

Estabeleça regras como o horário de uso de objetos ou locais comuns a todos, como tevês, vídeos, computadores, telefones, salas, banheiros; o que cabe a cada um na arrumação de quartos, organização de objetos pessoais como calcinhas e cuecas no banheiro, toalhas, brinquedos; as tarefas de cada um no dia a dia da casa; os horários das refeições; quando e como pode visita de amigos; a presença dos namorados dos filhos em casa.

Mostrando o lado bom

Apesar de muitos problemas, tente mostrar também que a nova união pode ser muito boa para todos e a convivência agradável e harmoniosa. Uma casa cheia é sempre mais divertida, as ocasiões de festas como Natal e aniversários ficam mais alegres, nas dificuldades tem mais gente para olhar um pelo outro, as tarefas da casa podem ser mais divididas e ninguém fica sobrecarregado.

Mas mostre principalmente a sua felicidade em refazer sua vida, que você está mais alegre, vivendo a vida com mais prazer, que o amor é o sonho de todas as pessoas e que com certeza, no futuro eles também sairão para construir vida própria. Não há filho que não goste de ver os pais felizes, por mais rebeldes e mimados que sejam.

Dicas

  • – Antes de levar as crianças e os jovens para viver debaixo do mesmo teto, comunique a decisão de unir as duas famílias e ouça o que todos têm a dizer. Às vezes os filhos podem não querer deixar o lar onde moram e a nova união em vez de trazer felicidade pode causar aborrecimentos.
  • – Mesmo as crianças devem ser ouvidas. Hoje elas são muito espertas e comunicativas. Se ela não souber o que vai acontecer, vai acabar caindo de paraquedas na família e com outras pessoas para dividir o espaço.
  • – Promova encontros agradáveis para aproximar as pessoas. Cinema com lanche depois, passeio de barco, jantar em local que a turma goste, churrasco com alguns poucos amigos podem ser boas opções.
  • – Toda reconstrução de vida a dois deve ser bem pensada. Como no primeiro casamento, o segundo também pode dar errado e levar os filhos para uma relação que não está amadurecida vai causar sofrimento para todo mundo.
  • – Se possível, escolham uma nova casa, com novos cômodos e móveis em que todos participem das escolhas. Construa um território neutro, onde ninguém vai se sentir o senhor de tudo.
  • – Desde o início, estabeleça as regras que devem ser seguidas por todos. Não libere seus filhos destas regras para não perder a razão.
  • – Fique atento às chantagens e armadilhas que peguem você pelo pior dos sentimentos: a culpa.
  • – Se algum membro da família estiver com dificuldades de adaptação ou se surgirem constantes atritos dentro de casa, procure um terapeuta familiar para analisar a situação e ajudar a achar uma solução em conjunto.
  • – Ninguém substitui o pai e a mãe de ninguém. Seja paciente, cuidadoso e carinhoso. A turbulência pode ser só uma fase. Aja com tranquilidade e evite discussões e enfrentamentos.

* Entrevista para o site Facilitando sua Vida, em 2004.

Para saber mais

Fale diretamente com Maria Teresa:
Leitura recomendada:
Famílias e Casais – Do Sintoma ao Sistema
Salvador Minuchin


1 Comentário

  1. VERA disse:
    27 de fevereiro de 2013 às 12:45

    tenho uma neta com 6anos que faz o 1°ano da escola ,está tendo dificuldade de enteração na aula,não faz tareza de sala,brinca com lapis,fala sozinha,em casa a mãe ajuda com muita dificuldade faz toda a lição mas muito dificil concentral no que faz,a priminha dela que está pra completar sete anos está mesma sala,e consegue acompanhar a aula,sentão separadas, mãe já marcou pediatra,usa oculos gostaria de saber que linha podemos seguir para ajuda-lá,desde já agradeço á atenção.

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